Terceira paralela à rua seis, número cento e noventa e nove, cinquenta e sete metros de altura, décimo oitavo andar, final três, trinta metros quadrados. Um morador, homem, quarenta e oito anos. Um gato fêmea, um gato macho, os dois com estampa de tigre: trinta e três e quarenta e oito listras, respectivamente.
Um vírgula oito metro separam a tevê trinta e duas polegadas e o sofá de dois lugares. Tamanho ideal para manter a qualidade da imagem, sem cansar mais a vista cansada. A tevê, inteligente, insiste em perguntar se ainda tem gente assistindo. Tem gente e tem gato.
Um estalo. Uma piscada. Um zumbido. Exatamente na metade da distância ideal olho-LCD. Alto o suficiente para atrapalhar o volume quatro da tv. O homem encara. Uma. Duas. Três voltas por segundo em um círculo de dez centímetros de diâmetro. Moscando bem no meio do sexto episódio da terceira temporada.
O homem força a vista e volta pra série. Volta e fica. Por trinta e cinco segundos. Desfoca. Três voltas por segundo em um círculo de dez centímetros de diâmetro. A volta-compasso no ritmo. O homem mostra um copo, duzentos ême-éle de refrigerante de cola com seis colheres de sopa de açúcar. A mosca ignora em zumbido. Três voltas por segundo em um círculo de dez centímetros de diâmetro. É uma mosca-fruta. O homem descasca uma banana e oferece. Agora vai. A rota de voo nem se desvia. Três voltas por segundo em um círculo de dez centímetros de diâmetro. O homem joga o gato em cima da mosca. O gato pula, a mosca escapa. O gato cansa. A mosca não. Oito milímetros de desprezo. Três voltas por segundo em um círculo de dez centímetros de diâmetro.
O homem desiste. Mais som na tevê. O olho na legenda amarelo-calcinha. Legenda amarela. Legenda amarela. Ponto preto. Três voltas por segundo em um círculo de dez centímetros de diâmetro. O homem inspira raiva e solta grito. Boca aberta. O som tampa o zumbido e abala a mosca na segunda volta do segundo. Sai pela tangente, entra goela abaixo. A mosca viva. Três voltas por segundo.