Em frente ao piano
Estala os dedos
Bate três vezes no dó
e chora
Ela quer ser música
mas o som de si machuca
e a melodia desafina
antes mesmo do refrão
Quem sabe um livro
que seja ela
que complete a estante
que tire as teias do peito
Se sua palavra não fosse pouca
Se uma pena conseguisse
Dar tom à sua voz, rouca
Os capítulos teriam vida
Fosse dança, talvez
Fazer do seu corpo um cisne
e do pliê um voo
Queria rodar no centro
Até fazer o seu mundo rodar
Mas no primeiro giro
Já se faz em tontura
Queria ser protagonista
Fingir que sente no palco
Atuar cada ato
Sem corte
Para ouvir um aplauso no final
Queria ser palavra
Queria ser arte
Queria traduzir de qualquer forma
O que sua alma tem falta
Mas o silêncio grita
E transforma o vazio em tristeza