O olho e o voo

Na hora que olhar dele cruzou com o meu, já me veio a certeza da sua intensidade. Olho maré, de aguas turvas e cheias de correnteza. Uma atração imediata, de canto de sereia, me fez me sentir uma Ulisses no meio da Odisseia de cada dia. Eu tinha planos, eu tinha que seguir a jornada até o fim de mais um dia comercial. Tinha janta. Tinha academia. Tinha trânsito. Tinha despetador às 6. Tinha razão. Mas o sentido do desejo me pedia para sonhar mais um pouco, pedia para parar o tempo e mergulhar nas tentações do inconsciente, do instinto, do prazer. E a consciência, fiscal da moralidade e da racionalidade, insistia em me lembrar da culpa de se querer voar.

 

Impressionante como o equilíbrio que faz andar reto e pra frente, nos relacionamentos, no trabalho, na vida, é sempre colocado em prova. Temos que ter planos, temos que ter controle. Sempre ouvimos que, para caminha seguro, não devemos ir nem depressa demais e nem devagar demais. Afinal, não queremos ser roubados e nem escorregar no chão. Controlamos cada passo e mantemos o equilíbrio.

 

Mas, será que o equilíbrio é realmente necessário? Será que é preciso voar sempre na altura mediana, ou podemos dar uma de Ícaro, de vez em quando, deixar a asa levar até o limite e, quando o sol queimar e a primeira gota de cera ameaçar pingar das nossas asas construídas, voltamos a baixar.

 

Sim. Me deixa voar. Amar por uma noite. Trocar intenso afeto. Deixa chegar no ápice, no clímax, no gozo. Para o momento no gemido. Na picada. No sorriso. Deixar de lado futuro, certeza e razão e, simplesmente, voar.

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